Atchim! Chegou a Primavera…. Não deixe que as alergias o impeçam de vivê-la…
Minutos depois de acordar, João André, 40 anos, debate-se com uma sessão de espirros… é um ritual que se repete todas as primaveras e que ao longo do dia inclui outros sintomas como nariz a pingar, olhos com comichão e lacrimejantes.
“Quando estou em reunião, tenho de desligar o microfone para poder espirrar... e fico logo com uma voz nasalada." João André sofre de rinoconjuntivite alérgica, doença que afeta milhões de portugueses, mas que ainda é subvalorizada.
Para si, e para milhares de pessoas que sofrem de alergias aos pólenes, os últimos dias não têm sido fáceis: aliado ao tempo seco e ao vento forte que fez os pólenes viajarem mais do que o habitual.
E qual é o panorama em Portugal?
As doenças alérgicas em geral e a rinite alérgica em particular têm vindo a aumentar significativamente nas últimas décadas, sobretudo nas crianças.
Mais de 30% da população portuguesa tem rinite alérgica e estima-se que nas próximas 2 décadas a rinite alérgica atingirá metade da população. Desde crianças aos idosos, a rinite não escolhe idades!
Em termos geográficos, o comportamento da rinite não parece ser o mesmo em todo o País… As regiões de Lisboa e Alentejo registam o maior número de casos de rinite alérgica. O Algarve é a região do País com menor prevalência de queixas nasais.
E algumas fotografias de satélite denunciam o aparecimento de grandes nuvens polínicas no norte e centro da Europa, o que era impensável no passado…
A rinite e as outras doenças alérgicas
A conjuntivite alérgica, que regra geral é a fiel companheira da rinite consiste na inflamação da conjuntiva provocada por alergénios…pólenes ou ácaros que desencadeiam a inflamação. Pode ser perene (contínua, durante todo o ano), e sazonal, na altura da Primavera.
Os sintomas, envolvem por norma os dois olhos e são o prurido intenso, a hiperemia conjuntival (olhos vermelhos), o lacrimejo transparente e abundante, e o ardor ocular. A fotofobia pode também estar presente em alguns casos.
As condições atmosféricas são determinantes para a maior agressividade destes agentes, particularmente para os pólenes. Os períodos de chuva reduzem drasticamente o número e concentração no ar ambiente. Pelo contrário, o vento, a temperatura elevada e o tempo seco constituem as condições que determinam maior severidade de sintomas. As condições geográficas resultantes da flora própria da região, condições de maior interioridade e a poluição urbana permitem uma significativa expressão destes alergénios na população sensibilizada ou suscetível.
Em Portugal, é na Primavera que as queixas de rinoconjuntivite são mais prevalentes. São os meses de fevereiro a outubro os que apresentam maiores concentrações totais de pólenes, com picos polínicos de março a julho.
As plantas mais importantes para os alérgicos são aquelas que polinizam pelo vento. Os grãos de pólen destas plantas são muito leves e podem ser levados pelo vento até bem longe. Em Portugal, de entre os principais tipos de pólenes com poder alergizante, verifica-se maior sensibilização, por ordem decrescente ao grupo das gramíneas, às oleáceas, às urticáceas e em menor grau às betuláceas.
A conjuntivite alérgica tem tratamento?
Claro que sim! Atendendo a que neste tipo de patologias a predisposição genética, por ora, não pode ser alterada, corrigida ou eliminada, a nossa atuação será ao nível da prevenção primária e da secundária.
As medidas de prevenção primária são:
As medidas de prevenção secundária passam pelo tratamento médico. Podemos recorrer a diferentes tipos de colírios (gotas oculares):
Afinal de contas, continuamos a falar da inflamação alérgica… Quer seja no nariz ou nos olhos! Assim, os sprays nasais com corticoides (corticoides nasais) e os comprimidos antialérgicos (anti-histamínicos) não devem ser esquecidos.
Em alguns casos é adicionada medicação adrenérgica em aplicação tópica (ex: oximetazolina). Estes só deverão ser utilizados para alívio de sintomas, em curtos períodos de tempo.
Existem ainda medidas simples que podem ser muito úteis no alívio dos sintomas como as compressas húmidas para aplicar nos olhos, soro fisiológico e lágrimas artificias.
As doenças alérgicas têm tratamento, sendo possível viver melhor.
Viva bem, viva sem Alergias!
Rita Aguiar
Médica Imunoalergologista
Hospital CUF Descobertas, Lisboa.